O presidente reagiu ao relatório final da CPI e afirmou que a Comissão não produziu nada além de “ódio e rancor”
Dando prosseguimento ao negacionismo que marcou o seu governo desde o início da pandemia, em março de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou, durante evento na cidade de Russas (CE) que fez tudo certo desde o surgimento do coronavírus.
“Sabemos que não temos culpa de absolutamente nada. Sabemos que fizemos a coisa certa desde o primeiro momento. No momento em que ninguém sabia como tratar aquela doença (Covid), eu tive a coragem de me apresentar para uma possível solução calcada na autonomia do médico brasileiro”, disse o presidente em referência ao tratamento com base na cloroquina.
Porém, o presidente mente ao fazer tal declaração, pois, em abril de 2020, após os primeiros resultados das pesquisas sobre a cloroquina, ficou comprovado que tal medicação era ineficaz contra a Covid e que, em alguns casos, poderia (como levou) pacientes a terem hepatite medicamentosa e à morte.
Ainda assim, no mesmo evento, Bolsonaro voltou a defender o que ele chama de “autonomia médica”. “O médico deve orientar e receitar cada um de vocês, se não tem remédio específico”.
Além disso, o presidente defendeu o Conselho Federal de Medicina (CFM), que respaldou os tratamentos ineficazes contra a Covid. “Segundo o Conselho Federal de Medicina, [o médico] tem a liberdade e o dever de buscar uma alternativa com o paciente e seus familiares”, justificou Bolsonaro.
A CPI da Covid, novamente, foi alvo de ataques do presidente. “A CPI não está fazendo algo de produtivo para o Brasil. Tomaram tempo do nosso ministro da Saúde, de servidores, pessoas humildes e de empresários. Nada produziram, além do ódio e rancor entre alguns de nós”, criticou.
A fala do presidente Bolsonaro em evento no Ceará é a primeira reação contra o relatório final da CPI que o acusou de, entre os vários crimes, crimes contra a humanidade, neste caso, o indiciamento se deu especificamente sobre três casos: o caso de Manaus (AM), onde a população foi feita de cobaia para testar a cloroquina e a “imunização de rebanho”; o caso Prevent Senior; e também o crime contra os povos indígenas.
Momentos antes da leitura do relatório final da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, explicou a retirada do indiciamento por “genocídio” e a inclusão de mais um crime contra a humanidade.
“Nós pacificamos entendimento. Sobretudo com relação a permuta do indiciamento por genocídio contra indígenas, que foi substituído por mais um tipo de indiciamento de crimes contra a humanidade e pela retirada do crime de genocídio em função da sua qualificação e de termos aceitos argumentos técnicos do senador Alessandro Vieira”, revelou.
Questionado sobre a retirada da tipificação por crime de genocídio contra o presidente Bolsonaro, Calheiros afirmou que o tipo de crime foi trocado por mais um indiciamento por Crime contra a humanidade.
“O genocídio não foi retirado, ele foi trocado por mais um indiciamento de crime contra a humanidade. Ele (Bolsonaro) será indiciado por crime contra a humanidade na questão da Prevent Senior, Manaus e agora, também, dos povos indígenas. O que foi retirado foi o crime de homicídio e aproveitei a oportunidade para agravar ainda mais esse crime, qualificá-lo ainda mais, por que estende a sua pena para 30 anos”, explicou.
O relatório final da CPI da Covid pode ser conferido aqui.
Fonte: Revista Fórum