Segundo Haddad, segurança da prova é quesito número 1 da credibilidade que levou mais de 60 universidades públicas do Brasil e 30 de Portugal a adotarem o exame
O ex-ministro da Educação Fernando Haddad afirmou que o presidente Jair Bolsonaro cometeria crime de responsabilidade da maior gravidade caso violassse a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “A segurança da prova é quesito numero 1. Se não houver a confiança de que apenas um colegiado muito particular, que confeccionou a prova, teve acesso, há perda da credibilidade do exame”, disse em entrevista ao portal UOL nesta terça-feira (16). “Tenho ouvido falar que tem havido um entra-e-sai na sala-cofre do Enem. Isso pode acarretar desconfiança se os dados estão sendo tratados com a devida confidencialidade”, disse Haddad. “Basta uma pessoa que não é do Inep vir com uma prova ou sair com algumas questões de lá.”
A desconfiança de que o conteúdo da prova que será aplicada nos próximos domingos (21 e 28) poderia ter sido vazado não é à toa. Primeiro porque, segundo denúncias, pessoas estranhas teriam tido acesso à chamada sala-cofre do exame e ao conteúdo. E, segundo, por causa da fala de Bolsonaro nesta segunda-feira (15), em entrevista no Bahrein, onde inaugurou embaixada. “O Enem começa agora a ter a cara do governo”, disse o presidente, que afirmou ainda que “até o ano passado havia questões que não tinham nada a ver com nada”.
Bolsonaro se referia à crise no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC e responsável pela elaboração, aplicação e correção das provas, causada pela saída de 37 servidores. Com cargos de coordenadores, esses funcion´ários deixaram o Inep denunciando prática de assédio moral e, ainda, a aplicação de métodos sem critério técnico por parte do presidente do órgão, Danilo Dupas.
Haddad destacou que a fala de Bolsonaro sobre a “cara no governo” no Enem é “totalmente equivocada”, porque o Enem não pertence ao governo – “é patrimônio do país e da educação brasileira”. “Quando um presidente da República fala o que o Bolsonaro falou, obviamente as instituições vão ficar muito atentas”, disse. O Enem, segundo ele, modernizou o acesso ao ensino superior no país, de modo semelhante ao de universidades da América do Norte, Europa e Ásia. O ex-ministro teme que, depois de universidades e institutos federais terem adotado o Enem, agora se abram brechas para métodos ultrapassados.
Nos sete anos em que esteve à frente do MEC, afirmou Haddad, nunca houve acesso à prova do Enem pelo ministro ou o presidente do Inep. E tampouco o presidente da República. “Isso é feito na confiança de especialistas em cada área, indicados pelas universidades. Para que o exame seja elaborado de maneira a atender o pleito justo das universidades e que o processo seletivo seja o melhor.”
Desde a reforma do exame de 2009, lembrou, nunca houve denúncias de servidores estranhos entrarem na sala-cofre. “Quando fizemos a reforma do Enem em 2009, tivemos a preocupação de que fosse representativo do ensino médio. Ou seja, do currículo que as universidades exigem de alguém que queria ingressar em seus quadros. Portanto, não conseguiríamos aprovar nos conselhos superiores a adesão das universidades se não fosse a credibilidade acadêmica do exame”.
Haddad criticou o descaso da Controladoria Geral da União. Além disso, sugerio que Ministério Público Federal ouça os servidores exonerados e investigue a crise no Inep.
Redação: Cida de Oliveira
Fonte: Rede Brasil Atual