O documento é resultado de fórum feito entre 13 e 15 de dezembro com 23 entregadores selecionados pela companhia
Terminou nessa quarta-feira (15) uma reunião de três dias feita pela empresa de entrega de alimentos e encomendas iFood com 23 entregadores de 14 cidades do país escolhidos e convidados pela operadora do aplicativo. Denominado Fórum de Entregadores do Brasil, o evento aconteceu a portas fechadas em São Paulo, sem que os participantes tivessem autorização para informar o endereço da reunião.
O fórum foi realizado no fim de um ano marcado por mobilizações e breques de entregadores de todo o país por melhores condições de trabalho. Exatamente durante o período em que ele se realizava, trabalhadores de Carapicuíba e Barueri, cidades da região metropolitana de São Paulo, fizeram uma greve e bloquearam a rodovia Castelo Branco.
De acordo com Lucas Oliveira, de Carapicuíba, a decisão foi de terminar a paralisação “por enquanto e acompanhar”. Entregador de Barueri, Lucas Cassu avalia que “a greve foi boa”: “estamos tendo mais promoções agora”. As promoções são valores extras temporários pagos por corrida, uma espécie de bônus.
As principais reivindicações desse e de todos os breques que aconteceram em 2021 – o fim dos bloqueios de conta sem possibilidade de defesa e o aumento da taxa mínima por coleta, que hoje é de R$5,31 -, no entanto, não foram atendidas. A primeira demanda consta na carta compromisso firmada ao final do Fórum do iFood; a segunda parece estar distante.
Compromissos firmados pelo iFood
Terminado o Fórum do iFood, o maior app de delivery do país estabeleceu compromissos com os trabalhadores que fazem o serviço existir. A pauta que mais aparece no documento diz respeito à demanda dos entregadores de que acabem os bloqueios de suas contas sem justificativa.
Da forma como está, muitas vezes sem saber o motivo ou ter possibilidade de defesa, de uma hora para outra entregadores são desabilitados da plataforma e impossibilitados de seguir trabalhando.
Até fevereiro de 2022 o iFood afirmou que vai dar “transparência sobre o motivo de alertas e suspensões temporárias” e desativação de contas. Até março vai ser aberta a possibilidade de entregadores contestarem as desativações, “iniciando por aquelas que aconteceram nos últimos 6 meses”.
A plataforma anunciou que vai revisar, até fevereiro, o funcionamento e o prazo do sistema que faz com que um entregador possa migrar entre as diferentes modalidades de vínculo. Atualmente existem duas: o Operador Logístico (OL), que tem jornada fixa e a relação com a plataforma intermediada por uma empresa; e o Nuvem, que define seu próprio horário de trabalho.
Já em relação a uma das reivindicações principais, o aumento e o reajuste anual da taxa mínima, o encaminhamento tirado foi de que a empresa vai “avaliar a possibilidade”.
Foi definido também que a partir de 2022 serão feitos fóruns regionais.
A carta compromisso foi assinada por Johnny Borges, que diversas vezes representou o iFood em mediações com entregadores durante mobilizações, e João Sabino, diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais da empresa.
Sabino se tornou mais conhecido depois que depôs em nome do iFood, em 7 de dezembro, na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Aplicativos na Câmara Municipal de São Paulo. Na ocasião, ele afirmou que 70% dos entregadores trabalha cerca de três horas por dia, de segunda a sexta.
Lucas Oliveira, que trabalha de 10h a 14h diariamente sem qualquer dia de folga na semana, definiu a afirmação como “cretina”. Segundo ele, está completamente descolada da realidade.
“Para cobrar fica mais fácil”
Em nota, o iFood afirma que “o 1º Fórum com Entregadores é resultado de um processo de escuta ativa e abertura ao diálogo, que se soma aos 50 encontros já realizados pelo iFood e entregadores apenas neste ano”.
A empresa diz que “tem atuado proativamente para a construção de uma regulação que garanta proteção social para os trabalhadores de plataformas digitais”.
Em live transmitida no canal do youtuber carioca Ralf MT, ele e outros entregadores que participaram da reunião fazem a leitura da carta compromisso. No vídeo, Ralf defende que se dê “um voto de confiança” ao app de delivery e que, já que há um documento assinado e a definição de prazos, “para cobrar fica mais fácil”.
“Se eles não cumprirem isso aqui vai ficar brabo para o lado deles”, afirma Ralf, com o papel em mãos.
Edição: Vinícius Segalla
Fonte: Brasil de Fato