Segundo o conceito de Saúde Única, as saúdes animal, humana e ambiental estão conectadas. Assim, devem ser trabalhadas em conjunto, com uma visão holística
Existem diversas tentativas de explicar o que são pandemias, assim como a saúde pode ser definida de diferentes maneiras. Por não existir uma definição única aceita do termo pandemia, é importante considerar as doenças reconhecidas como pandêmicas para tentar entendê-las examinando as semelhanças e as diferenças entre elas. O que a maioria dessas doenças tem em comum são a ampla distribuição geográfica, a movimentação ou a propagação por meio de uma transmissão que pode ser rastreada de um lugar para o outro, as altas taxas de ataque e explosão, a imunidade populacional mínima, a novidade, a infecciosidade, a contagiosidade e a gravidade. Tratei deste tema em nota técnica da 15ª Carta de Conjuntura do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Conjuscs).
Em relação à saúde, para um indivíduo ser saudável ele enfrenta questões que vão além das condições biológicas e das doenças. É preciso reconhecer que existem os determinantes sociais da saúde, que são fatores que interferem na saúde de um indivíduo, incluindo as condições socioeconômicas, culturais e ambientais da sociedade onde ele está inserido, as interações familiares e da convivência social, além das relações das suas condições de vida e de trabalho, como a habitação, o saneamento, o ambiente de trabalho e o acesso aos serviços de saúde e educação. Por isso, o processo saúde-doença é algo complexo, principalmente em uma sociedade com grandes desigualdades.
O conceito de Saúde Única vai além, afirmando que as saúdes animal, humana e ambiental estão extremamente conectadas, assim, devem ser trabalhadas em conjunto, com uma visão holística. Para isso, é necessária a utilização de estratégias e abordagens de saúde transdisciplinares, multiprofissionais e multisetoriais. Esses conceitos são relevantes ao ponto de existir uma Aliança Tripartite com abordagem em Saúde Única entre a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Algumas estratégias para prever e prevenir novas pandemias, especialmente as de origem animal, devem ser feitas, uma vez que 60% das doenças infeciosas emergentes identificadas desde 1940 eram zoonóticas. Ao investigar as origens das zoonoses emergentes até a primeira ocorrência na população humana, percebe-se que existem padrões que podem ser usados no controle de doenças e a avaliação do potencial pandêmico pode ser realizada por meio de estágios.
O presente século está enfrentando alguns desafios que devem ser decorrentes das ações antrópicas passadas e atuais, pois estamos vivendo o antropoceno, um novo período geológico da terra, que vem após o Holoceno, em que o ser humano alterou o planeta através da degradação ambiental e ações relacionadas à modernidade urbano-industrial. Há uma tendência crescente de doenças zoonóticas, que está sendo impulsionada pela degradação ambiental e pela exploração da vida selvagem, como é o caso do tráfico de animais.
Esse guia traz informações que os gestores dos diversos países do planeta devem considerar e implementar objetivando a redução de ameaças e danos às saúdes humana, animal e ambiental, além da promoção de saúde única.
Adicionalmente, um documento foi produzido por uma parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI) em resposta à demanda de produção científica relacionada à Covid-19, que além de focar nas causas do surgimento e da disseminação do SARS-CoV-2 e de outros agentes zoonóticos, traz algumas ações práticas que os gestores podem realizar para prevenir e responder aos surtos futuros. São elas:
1 – Investir em abordagens interdisciplinares e multiprofissionais como a Saúde Única.
2 – Incentivar pesquisas científicas sobre doenças zoonóticas.
3 – Melhorar as análises de custo-benefício das intervenções para incluir o custo total dos impactos sociais gerados pelas doenças.
4 – Aumentar a sensibilização sobre as doenças zoonóticas.
5 – Fortalecer o monitoramento e a regulamentação de práticas associadas às doenças zoonóticas, inclusive de sistemas alimentares.
6 – Incentivar práticas de gestão sustentável da terra e desenvolver alternativas para garantir a segurança alimentar e meios de subsistência que não dependam da destruição dos habitats e da biodiversidade.
7 – Melhorar a biossegurança, identificando os principais vetores das doenças nos rebanhos e incentivando medidas comprovadas de manejo e controle de doenças zoonóticas.
8 – Apoiar o gerenciamento sustentável de paisagens terrestres e marinhas, a fim de ampliar a coexistência sustentável entre agricultura e vida selvagem.
9 – Fortalecer a capacidade dos atores do setor de saúde em todos os países.
10 – Operacionalizar a abordagem da Saúde Única no planejamento, implementação e monitoramento do uso da terra e do desenvolvimento sustentável, entre outros campos
Dessa maneira, fica evidente que a abordagem em saúde única é uma das chaves para o enfrentamento das pandemias.
FONTE: REDE BRASIL ATUAL
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