Professor da Unicamp Plínio de Arruda Sampaio Jr afirma que o primeiro passo para superar a crise econômica é interromper a circulação do vírus, com distanciamento social assegurado pelo auxílio emergencial e vacinação
As crises têm o enorme poder de trazer à tona as estruturas que sustentam a sociedade, revelando, para além do verniz de civilidade, qual é, no fundo, a razão de Estado que orienta o governo no Brasil no sentido do neoliberalismo.
“A crise civilizatória brasileira se caracteriza pela ameaça crescente que a lógica do lucro representa para a sobrevivência da humanidade e, no limite, do próprio planeta. Ao transformar a barbárie em razão de Estado, Bolsonaro levou a reversão neocolonial ao paroxismo. Em poucas palavras, falta um projeto de sociedade que questione pela raiz o neoliberalismo”, pondera o professor e pesquisador Plínio de Arruda Sampaio Jr, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
A complexidade das crises é que elas são interconectadas, de modo que acreditar que uma solução econômica pode emergir de forma alheia aos enfrentamentos das crises sanitária e social é pura quimera.
“O primeiro passo para superar a crise econômica é interromper a circulação do vírus, o que significa basicamente duas coisas: dar condições econômicas efetivas para que a população faça isolamento social; e garantir a vacinação do conjunto da população o mais rápido possível – o contrário do que vem sendo feito não só pelo governo Bolsonaro, mas também pelos governos estaduais e municipais”, avalia o entrevistado.
A boa notícia da vacina, no entanto, não é suficiente para ensejar otimismo, ainda mais levando-se em conta o cenário global. “Não há nenhuma possibilidade de uma recuperação rápida da economia mundial e menos ainda da economia brasileira.”
“Os países ricos não conseguirão imunizar sua população antes do segundo semestre de 2021 e, pelo que diz a Organização Mundial da Saúde, se não houver novidade, a pandemia não termina antes de 2023. Enquanto o coronavírus não deixar de circular no planeta, ninguém está à salvo, nem mesmo os países que conseguirem imunizar toda a sua população, pois há sempre o risco de aparecimento de cepas do vírus mais infecciosas e avessas às vacinas existentes”, destaca Sampaio Jr.
Plínio de Arruda Sampaio Jr é professor aposentado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp). Possui mestrado em Economia e doutorado em Economia Aplicada pela mesma instituição.
Confira a íntegra da entrevista
FONTE: REDE BRASIL ATUAL
FOTO: Reprodução / Masp / João Musa