Governo Bolsonaro admite que vacinação contra Covid-19 pode parar e implora à China por novas doses

Em carta ao embaixador da China, Ministério da Saúde demonstra preocupação com variantes e pede 30 milhões de doses da Sinopharm

Em carta enviada na segunda-feira (8) ao embaixador da China, o Ministério da Saúde, sob chefia de Eduardo Pazuello, admite que há riscos de a falta de doses interromper a vacinação contra a Covid-19 no país. O governo então pede ajuda a Yang Wanming para importar imunizantes da farmacêutica Sinopharm.

“A campanha nacional de imunização, contudo, corre risco de ser interrompida por falta de doses, dada a escassez da oferta internacional. Por conta disso, o Ministério da Saúde vem buscando estabelecer contato com novos fornecedores, em especial a Sinopharm, cuja vacina é de comprovada eficácia contra a Covid-19”, escreveu o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, na carta.

Segundo informações do G1, o governo Bolsonaro quer adquirir 30 milhões de doses da Sinopharm. A vacina, no entanto, não está entre as doses negociadas ou em sondagem já anunciadas pelo Ministério da Saúde. Da China, apenas a CoronaVac, da Sinovac, está em uso no Brasil.

Na carta, o secretária cita ainda o impacto da variante P.1, defende a vacinação como principal estratégia e faz o pedido de ajuda para o fornecimento de doses.

“Nesse contexto, muito agradeceria os bons ofícios de Vossa Excelência para averiguar a possibilidade de a Sinopharm fornecer 30 milhões de doses da vacina BBIBP-CorV, em cronograma e preço a serem acordados, se possível, ainda para o primeiro semestre de 2021, com possibilidade de quantidades adicionais para o segundo semestre deste ano”, pede o secretário.

O governo brasileiro protagonizou diversos conflitos com o país asiático durante a pandemia. Em outubro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que o país não compraria “a vacina da China”, desautorizando o ministro Eduardo Pazuello.

Além disso, outros membros do governo já culparam o país pela disseminação do vírus, como foi o caso do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Veja abaixo a íntegra da carta:

Assunto: Sinopharm – fornecimento de doses da vacina BBIBP-CorV.

Senhor Embaixador,

  1. O Brasil enfrenta, hoje, nova variante do coronavírus, conhecida como P1, que se vem mostrando infecciosa e capaz de evoluir em quadro clínico grave com rapidez. O Ministério da Saúde está ciente da importância de conter essa cepa e de impedir que se espalhe pelo mundo, recrudescendo a pandemia.
  2. A principal estratégia brasileira para conter a pandemia e, em particular, essa variante P1 é intensificar a vacinação. Até a presente data, já foram vacinadas mais de 9 milhões de pessoas.
  3. A campanha nacional de imunização, contudo, corre risco de ser interrompida por falta de doses, dada a escassez da oferta internacional. Por conta disso, o Ministério da Saúde vem buscando estabelecer contato com novos fornecedores, em especial a Sinopharm, cuja vacina é de comprovada eficácia contra a Covid-19.
  4. Nesse contexto, muito agradeceria os bons ofícios de Vossa Excelência para averiguar a possibilidade de a Sinopharm fornecer 30 milhões de doses da vacina BBIBP-CorV, em cronograma e preço a serem acordados, se possível, ainda para o primeiro semestre de 2021, com possibilidade de quantidades adicionais para o segundo semestre deste ano.
  5. O Ministério da Saúde agradece toda atenção e auxílio que a Embaixada da República Popular da China no Brasil e a Sinopharm puderem oferecer ao Brasil neste momento, para aumentar a oferta de imunizantes no âmbito do Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação Contra a Covid-19.

Respeitosamente,

ANTÔNIO ELCIO FRANCO FILHO

Secretário-Executivo

FONTE: REVISTA FÓRUM
FOTO: Lisa Ferdinando/Fotos Públicas