Limpar compras e superfícies não é tão importante contra a covid-19, que se transmite principalmente por gotículas de saliva, que podem ser bloqueadas por máscaras
Um ano depois do início da pandemia de covid-19, orientações de saúde gerais ainda se concentram muito em limpeza e desinfecção de superfícies. No entanto, pesquisadores do mundo todo consideram que essas medidas são menos importantes para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, que se transmite majoritariamente por gotículas de saliva e aerossol emitidos pela pessoa contaminada, ao falar, tossir ou espirrar. Especialistas em saúde defendem que a proteção efetiva contra a covid-19 se dá por medidas como o uso de máscaras adequadas e bem ajustadas, manter os ambientes ventilados e preservar o distanciamento das outras pessoas, além de evitar aglomerações.
A limpeza de superfícies não está totalmente descartada. Ela é apropriada em ambientes com concentração de pessoas doentes, no caso de unidades de saúde, ou se há alguém contaminado pelo novo coronavírus em uma residência. No cotidiano, porém, as superfícies e produtos trazidos do mercado ou recebidos por entregas são considerados de baixíssimo risco de contaminação de acordo com os estudos mais recentes. Nestes casos, evitar tocar o rosto enquanto estiver manipulando os produtos e lavar as mãos com água e sabão em seguida, são suficientes.
A FDA, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, publicou documento em 18 de fevereiro confirmando que o risco de contaminação pelo novo coronavírus na manipulação de alimentos ou embalagens de alimentos é extremamente baixo. “Considerando os mais de 100 milhões de casos da covid-19, não temos visto evidência epidemiológica de que alimentos ou embalagens de alimentos sejam fontes da transmissão do Sars-CoV-2 aos humanos”, afirmou a agência.
Ao mesmo tempo, o salto das contaminações e internações no Brasil, atribuído em parte a cepas mais infecciosas do novo coronavírus, acendeu o alerta para a necessidade de orientar melhor a população sobre o uso correto de máscaras e os melhores tipos para garantir a proteção contra a covid-19. O pesquisador na Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19BR Vitor Mori mantém em suas redes sociais várias orientações sobre o uso máscaras e a importância de manter locais ventilados.
Quando falamos, tossimos, espirramos, cantamos ou respiramos forte, gotículas de saliva são expelidas no ar. As maiores caem mais rapidamente e representam menos risco. Mas as menores, chamadas aerossóis, permanecem suspensas no ar por até três horas e podem se mover por até oito metros, em locais fechados. Nesses espaços deve-se permanecer o menor tempo possível e sempre usar máscara para se proteger da covid-19.
Os locais com maior risco de contaminação são restaurantes, bares, academias e igrejas. Nesses espaços, os sons do ambiente fazem com as pessoas falem mais alto – ou cantem, no caso de igrejas –, emitindo mais aerossóis. No caso das academias, a respiração mais forte durante o exercício tem efeito semelhante. Já no transporte coletivo, a lotação é o maior problema, pois leva a uma grande concentração de aerossóis e pessoas por longos períodos.
Locais abertos, praças e parques, ou bem ventilados levam a uma rápida dispersão desses aerossóis, sendo espaços mais seguros – o que não significa que não possa ocorrer a contaminação. Podem ser utilizados exaustores ou ventiladores nas janelas para melhorar a troca de ar em salas ou outros espaços fechados. E sempre utilizar máscara e manter o distanciamento, para reduzir o risco de contrair a covid-19. Pesquisadores criaram uma tabela para facilitar a análise de risco de transmissão do novo coronavírus em relação ao ambiente. É importante ressaltar: a tabela a seguir aponta diferentes níveis de risco conforme a situação, e não ausência de risco. Portanto, o uso da máscara, sobretudo fora casa, é obrigatório e necessário.
No caso das máscaras contra a covid-19, os pesquisadores apontam sempre para o uso de equipamentos mais eficazes, caso das máscaras PFF2 ou N95, utilizadas por profissionais de saúde. Escritórios, unidades de saúde, transporte coletivo, são exemplos de locais fechados, com grande concentração de pessoas, que demandam o uso desse tipo de equipamento. No entanto, a alta procura levou a um aumento significativo no preço desses produtos, o que pode torná-las inacessíveis para boa parte da população.
As máscaras PFF2 e N95 são descartáveis, mas podem ser reutilizadas, com alguns cuidados. Nenhum tipo de produto de limpeza ou desinfecção deve ser passado nelas. Após o uso, elas devem descansar penduradas em local seco e arejado, por, pelo menos, cinco dias. Quando for reutilizar, procure rasgos, rupturas ou desgastes, tanto no tecido quanto nos elásticos. Se houver, descarte a máscara e pegue uma nova.
No entanto, em espaços abertos, uma máscara cirúrgica, com uma máscara de tecido dupla camada por cima, garante uma boa proteção. Desde que esteja bem ajustada no rosto, cobrindo totalmente o nariz e a boca. Se necessário, é possível fazer um laço na alça para aumentar o aperto. Máscaras que prendem na cabeça, ao invés de prender nas orelhas, são mais confortáveis de usar por períodos maiores.
Em relação à proteção, as máscaras PFF2 ou N95 são capazes de bloquear até 99% das partículas. Uma máscara cirúrgica com uma de tecido com dupla camada por cima tem eficácia de 90%. Apenas a máscara cirúrgica, chega a 60%. E apenas a máscara de tecido com três camadas, 50%. Bandanas, protetores de pescoço, cachecóis e máscaras de tecido elástico com costura frontal são inadequadas e oferecem muito pouca proteção.
FONTE: REDE BRASIL ATUAL
FOTO: Guilherme Gandolfi