Marcelo Queiroga disse que quer aumentar vacinação nos próximos três meses, mas falta insumo para a produção das doses
Há um ano da primeira morte oficialmente registrada pela covid-19 no Brasil, o governo federal deve lançar, nos próximos dias, uma secretaria extraordinária para tratar da pandemia e iniciativas publicitárias para estimular o uso de máscaras e distanciamento social.
À Folha de S. Paulo, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que Jair Bolsonaro (sem partido) “já editou uma medida provisória que deve ser publicada criando uma secretaria extraordinária para o enfrentamento à pandemia da Covid, que visa tornar mais eficientes as ações”.
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O chefe da pasta também afirmou que uma das metas do Ministério é acelerar a campanha de vacinação principalmente nos próximos três meses. “A partir do segundo semestre conseguiremos ter mais doses disponíveis. O maior país a vacinar sua população é os Estados Unidos. Depois que conseguirem vacinar a população deles, vamos ter mais doses. É a nossa expectativa”, afirmou Queiroga.
A imunização em massa no Brasil não depende apenas dos Estados Unidos, no entanto. Os principais exportadores de insumo para a produção de vacinas, China e Índia, têm dificuldades até mesmo para imunizarem a própria população, que equivale a 2,8 bilhões de habitantes, ou seja, 35% da população global.
Má gestão da pandemia
Em entrevista ao Correio Braziliense, o especialista em gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Walter Cintra, afirma que o governo federal falhou ao não levar em conta todos esses cenários, a partir de uma postura negacionista em relação à pandemia.
“Temos vários problemas nesta campanha de vacinação, decorrentes da postura negacionista do governo federal, que deixou de tomar as medidas necessárias no tempo certo, além de criar dificuldades para governos municipais e estaduais. (….) De antemão, era sabido que precisaríamos de uma grande quantidade de vacinas, em razão do tamanho da nossa população. Há uma corrida mundial pela vacina, e o Brasil demorou para se mexer”, diz.
Exemplo: no dia 23 de janeiro, o governo federal divulgou uma nota criticando publicamente o laboratório farmacêutico Pfizer por cláusulas impostas para comercialização do imunizante.
Uma das medidas autorizava o governo brasileiro a assumir responsabilidade sobre possíveis efeitos adversos causados pelo imunizante – as cláusulas que Bolsonaro considera “abusivas” estão previstas em recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e se aplicam a vacinas aplicadas no Brasil há décadas.
Além dos EUA, a União Europeia, Japão, Canadá, Israel, Austrália, México, Equador, Chile, Costa Rica, Colômbia, Panamá e todos os demais países que compraram o imunizante aceitaram essas exigências.
“Causaria frustração em todos os brasileiros [comprar as 70 milhões de doses oferecidas pela Pfizer em agosto], pois teríamos (…) que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina”, argumentou o Ministério da Saúde, em janeiro.
Menos vacinação, variantes mais letais e aumento de óbitos
Com a imunização em ritmo lento e sem as medidas de isolamento social capazes de frear a pandemia da covid-19, o vírus apresenta cada vez mais mutações e vai, assim, tornando-se mais resistente às vacinas existentes.
Um estudo de Israel publicado no último sábado (10) mostrou, por exemplo, que a variante do coronavírus descoberta na África do Sul, presente no Brasil, pode escapar da proteção da vacina da Pfizer/BioNTech.
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A pesquisa comparou pessoas que contraíram o vírus 14 dias ou mais após receberem pelo menos uma dose de vacina com outras não vacinadas. Entre os pacientes vacinados com duas doses, o índice de prevalência da variante foi oito vezes maior em relação àqueles que não estavam vacinados: 5,4% contra 0,7%.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), existem pelo menos 92 variantes do novo coronavírus em território brasileiro, por vezes, mais letais – a variante do Reino Unido, por exemplo, pode ser 64% mais letal –, o que explica, em parte, o aumento do número de óbitos por covid-19.
Nas palavras de Felipe Naveca, vice-diretor de Pesquisa e Inovação do Instituto Leônidas & Maria Deane, da Fiocruz Amazônia, também ao Correio Braziliense, “mutações, quando favoráveis, representam mais um mecanismo de escape para o vírus. Quanto mais oportunidades ele encontra para se reproduzir, mais chances tem de chegar a essas variações cada vez mais bem adaptadas ao corpo humano”.
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Segundo o Boletim Epidemiológico da Fiocruz, nos primeiros três meses de 2021, houve um crescimento de 468,57% na quantidade de mortes, sendo as maiores taxas observadas em Rondônia, Tocantins, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e no Distrito Federal.
O Brasil teve, no dia 11 de abril, o domingo “mais letal” desde o início da pandemia. Foram registrados 1.803 novos óbitos em 24 horas. Até então, a taxa mais alta para o dia da semana havia sido de 1.656, no dia 28 de março.
Com o dado, o Brasil soma 353.137 mortes por covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos. Em relação à quantidade de casos registrados no último período, foram 37.017 novos infectados, totalizando 13.482.023 casos desde o início da pandemia, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Os dados do ritmo da vacinação também não são animadores. Segundo o último balanço do consórcio dos veículos de imprensa, até às 20h deste domingo (11), 23.286.249 pessoas receberam a primeira dose de vacina, ou seja, 11% da população; e 7.052.402 pessoas (3,33% da população do país) receberam a segunda. No total, foram 30.338.651 doses aplicadas.
FONTE: BRASIL DE FATO
FOTO: Tânia Rêgo/Agência Brasil