Os períodos estabelecidos pelo Ministério da Saúde não consideram o tempo de transmissão das variantes
O tempo recomendado para uma pessoa com covid-19 deixar o isolamento e evitar a transmissão do vírus pode variar de acordo com a situação dos pacientes. A contagem é feita sempre a partir do primeiro dia de sintomas ou, para quem não teve sintomas, a partir do exame positivo.
O período de 10 dias é indicado para os pacientes imunocompetentes, ou seja, que não possuem nenhuma condição física que dificulte o processo normal de defesa contra infecções. Essa referência de prazo é utilizada tanto internacionalmente como pelo Ministério da Saúde.
Por outro lado, a situação dos imunodeprimidos é diferente. Segundo Raquel Stucchi, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), isso que significa, por exemplo, que para “um paciente que está fazendo quimioterapia ou um paciente transplantado com covid, mesmo que tenha covid leve, que faça só acompanhamento em casa, são 20 dias de isolamento. A gente sabe que paciente imunodeprimido fica eliminando o vírus por mais tempo”.
Tempo pode ser maior
Tanto para os casos com imunocompetentes como imunodeprimidos, o isolamento só deve ser deixado caso o paciente esteja sem febre há pelo menos 24 horas, sem uso de medicamentos antitérmicos e com diminuição dos sintomas respiratórios.
Stucchi explica que manter o exame o RT-PCR, que detecta o coronavírus no corpo humano, negativo não significa que o paciente não está com o vírus e, portanto, não deve deixar o isolamento. “Não significa a presença de vírus que se transmita. Às vezes esse PCR pode ser só resto do vírus, como se fosse a pele.”
Regra geral
De acordo com a especialista, seriam necessários exames muito mais sofisticados para detectar a presença de vírus ainda transmissíveis, o que é “impraticável” no dia a dia. Por isso, a padronização dos 10 e 20 dias de isolamento para os pacientes.
“Isso é uma regra geral. Para tudo a gente tem exceção”, lembra Stucchi. Com as novas variantes, principalmente com a nova cepa identificada primeiramente no Reino Unido, alguns estudos mostram que o tempo de eliminação, logo, transmissão, do vírus, pode ser maior do que 10 dias.
“A gente sabe, com base em alguns estudos, que alguns pacientes se mantêm infectantes. A gente conseguiu ver que o vírus continuava se replicando, às vezes por período maior do que três meses. Mas isso é a maioria? Não. Isso teria um impacto na saúde coletiva? Provavelmente também não”, afirma Stucchi.
No entanto, as novas variantes têm “quase como regra” um tempo de transmissão que seria de 14 dias. “Neste sentido, existe uma preocupação, nossa de infectologistas e epidemiologistas, que com essa nova variante se de fato a gente não deveria como regra, já que a gente tem as novas variantes sendo as principais nos diversos locais, mudar a regra dos 10 dias para os 14 dias.”
Para Stucchi, tal mudança deveria ocorrer, mas mesmo as diretrizes internacionais, como do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, e da Organização Mundial da Saúde (OMS), mantém a regra dos 10 e 20 dias. Ocorre que os países que ditam tais regras já estão, na maioria dos casos, com a pandemia controlada e um ritmo adequado de vacinação. Não é o caso do Brasil.
Situação do Brasil
Dos 20 países que integram o G-20, o Brasil lidera o ranking do total de mortes por covid-19 a cada 1 milhão de habitantes. Quando a régua muda para o total de doses aplicadas por 100 habitantes, o Brasil cai para a 11º posição, atrás, por exemplo, de Turquia, Arábia Saudita e China.
Os dados são da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford. Os 20 países representam 80% da produção econômica mundial, cerca de 65% da população global e 75% quartos do comércio internacional.
Fonte: Brasil de Fato – Edição: Daniel Lamir