Cálculos prévios para o PIB de 2023 apontam cautela

Estimativas da FGV e do Banco Central sinalizam crescimento, mas economista alerta para processo de desaceleração

Os prognósticos para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro revelam que o primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra uma trajetória de recuperação econômica, mas a possibilidade de desaceleração não está descartada.

Um exemplo disso é a prévia do PIB calculada pelo Banco Central, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), que cresceu 0,82% no mês de dezembro, o que representa a expansão mais forte dos últimos oito meses e a terceira taxa mensal mais alta do ano, abaixo do visto em abril (1,3%) e fevereiro (3,07%).

Segundo Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, os dados mensais podem ter sido afetados por movimentos sazonais, mas a análise em uma ótica maior expressa “a consolidação de um processo de desaceleração da economia”.

O bom desempenho do indicador no mês pode ter sido afetado por movimentos sazonais que aquecem a economia nesse período do ano. A análise sob uma ótica temporal maior, no entanto, expressa a consolidação de um processo de desaceleração da economia.

“Em 2023, o ápice do nível de atividade foi atingido em abril. No segundo semestre do ano, a taxa média mensal de crescimento ficou em 0,12% apenas e contrastou com a taxa média mensal de crescimento de 0,5% verificada no primeiro semestre do ano”, diz a economista.

“Nesse sentido, os dados recentes reforçam o cenário base do Banco Central do Brasil de desaceleração paulatina do nível de atividade”, pontua Carla, ressaltando que mudanças no cenário base da instituição só vão acontecer caso “as próximas divulgações do indicador apresentem taxas elevadas e constantes de crescimento”.

Crescimento de 3% em 2023 na ótica da FGV

Já o Monitor do PIB calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a atividade econômica em 2023 cresceu 3% e, na análise das séries sem efeito sazonal, a economia cresceu 0,1% no quarto trimestre, em comparação ao terceiro e, 0,6% em dezembro, frente a novembro.

Em nota, a coordenadora da pesquisa, Juliana Trece, diz que a agropecuária foi fundamental para o crescimento do país em 2023, uma vez que cerca de 30% do crescimento foi diretamente afetado por tal atividade, em especial pela soja na produção Centro-Sul, em um sinal de que o crescimento não foi uniforme.

“Devido ao agronegócio, o efeito do excelente desempenho agropecuário no ano se estendeu para outras atividades econômicas, o que potencializou sua influência na economia”, explica Juliana, destacando também o desempenho da indústria e dos serviços.

Enquanto o segmento de serviços apresentou crescimento generalizado, as atividades industriais que puxam o crescimento, como transformação e construção, perderam força em 2023.

A composição do PIB vem sendo alertada pelos economistas: em setembro, o economista Matheus Pizzani, da CM Capital, lembrou que o PIB nacional era muito dependente da indústria do setor extrativo, diretamente afetado pela demanda externa.

“Pela ótica da demanda, o consumo e as exportações cresceram a taxas acima do PIB (3,2% e 9,5%, respectivamente), porém a formação bruta de capital fixo apresentou queda, o que contribuiu para a redução da taxa de investimentos do país”, diz a coordenadora da FGV.

Ao avaliar o crescimento marginal de 0,1% no quarto trimestre ante o terceiro, Juliana Trece destacou que, “embora com clara tendência de desaceleração nessa comparação, o resultado mostra resiliência da economia apesar das fragilidades de um crescimento anual concentrado e bastante influenciado por commodities”.

Em dezembro, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projetou um PIB de 3,2% para 2023, influenciado pela melhora no consumo das famílias e das exportações, puxadas pelo agronegócio e pelo setor de petróleo.

FONTE: JORNAL GGN