O presidente Lula obteve vitória histórica com margem estreita. Alcançou 50,90% dos votos contra 49,10% do seu oponente de extrema-direita. Provavelmente esse resultado revele a maior polarização política da história recente do nosso País.
Passado mais de 1 ano do governo, com pequenas variações, pode-se dizer que a polarização continua. É verdade que o governo melhora os indicadores positivos na percepção popular, mas o campo político de extrema-direita se mantém forte.
O último exemplo dessa polarização foi a constatação de que, mesmo depois da divulgação massiva do vídeo da reunião ministerial em Bolsonaro tramava abertamente golpe de Estado, a divisão na sociedade continua.
Segundo pesquisa do Instituto Atlasintel, divulgada neste mês de fevereiro, 36,8% dos brasileiros não acreditam na tentativa de golpe, 42,2% acham que Bolsonaro está sendo perseguido e 42% são contrários à eventual prisão do ex-presidente.
Esses dados da pesquisa sobre o quadro político do País são um grande nó a ser desatado. Mesmo com todas as evidências e a multiplicação de denúncias, há espécie de blindagem que assegura a sobrevida política do bolsonarismo.
O grande desafio do campo político liderado pelo presidente Lula é conquistar apoio popular consciente, forte, decidido e desmascarar a farsa bolsonarista. Isso depende de variável estratégica: a mobilização popular.
Para alcançar esse apoio, Lula tem múltiplas tarefas. Precisa impulsionar o crescimento econômico, reindustrializar o País, gerar empregos de qualidade, ampliar as políticas sociais para reverter a tragédia social provocada pelo antecessor.
Paralelamente, Lula precisa remover os tentáculos neoliberais que capturaram o Estado brasileiro. Banco Central independente, juros abusivos, metas de inflação irrealistas e política fiscal restritiva ancorada no chamado déficit zero.
Além disso, Lula precisa usar e abusar de toda a sua habilidade política para driblar os obstáculos de 1 Congresso Nacional conservador e refratário às mudanças. Para isso, é obrigado à sucessivas negociações para aprovar projetos no Parlamento.
Mas a mãe de todas as batalhas de Lula é, como já se disse, conquistar apoio popular, sem o qual nenhum governo tem assegurada sustentação. As condições para este apoio dependem das ações do governo e dos movimentos sociais.
Dada a atual correlação de forças, o governo precisa consolidar e ampliar a frente ampla, isolar, derrotar as tentativas de volta da extrema-direita, tudo combinado com a luta para assegurar a realização do programa com o qual foi eleito.
Certamente que há contradições no seio da frente ampla. Mas a disputa democrática pelos rumos do País só terá resultado positivo se for sustentada em forte movimento popular.
Quando se fala em mobilização, não podemos nos contentar com a realização de atos com presença quase exclusiva de militantes ou na participação em conferências e grupos de trabalho criados pelo próprio governo.
Essas participações são condições necessárias, mas insuficientes para se viabilizar nova agenda no sentido das mudanças e com força social para derrotar os adversários do programa do governo.
O esforço para conseguir mobilizações massivas ajuda o governo e não joga água no moinho da oposição. São ações que devem colocar no topo da agenda a luta por novo projeto nacional de desenvolvimento, com valorização do trabalho.
A base para a retomada das mobilizações é a construção unitária de nova agenda para o País, em linha com o quadro político. Além da agenda comum, o movimento de massas precisa desenvolver ações de forma ampla e unitária.
Há setores do movimento, no entanto, que subestimam a complexidade da atual conjuntura e adotam posições exclusivistas. O hegemonismo e as posições excludentes dificultam a necessária unidade e retardam as possibilidades de avanço.
Por último, mas não menos importante, é preciso que a inteligência política das lideranças populares defina não apenas palavras de ordem justas, mas bandeiras capazes de galvanizar e levar o povo às ruas. Parece simples, mas não é.
O fio condutor de política justa parte da compreensão de que não existe contradição entre lutar pelo êxito do governo Lula e mobilizar o povo de forma independente, com pauta própria do movimento.
Com agenda e mobilização unitárias, amplitude e politização crescentes dos movimentos sociais, podemos construir alicerces fortes e seguros para evitar retrocessos, manter o rumo progressista do governo e melhorar a vida do povo.
(*) Secretário sindical do PCdoB e secretário de Relações Internacionais da CTB
FONTE: DIAP