Levantamento da SBM mostra desigualdade de acesso ao rastreamento e ao diagnóstico do câncer de mama em mulheres com mais de 70 anos.
O número de idosos no Brasil cresceu quase 60% nos últimos 12 anos, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto, nem sempre as políticas públicas acompanham o crescimento e envelhecimento da população.
Uma prova disso é o levantamento que a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) publicou recentemente, mostrando a desigualdade de acesso ao rastreamento do câncer de mama em mulheres com mais de 70 anos.
O estudo, que abrange todas as regiões do país, foi realizado entre 2013 e 2019 e compara brasileiras com 70 anos ou mais e mulheres entre 50 e 69 anos. No levantamento, foram consideradas informações no SUS e uma base secundária de dados obtidos no DataSUS, no Painel Brasil de Oncologia, na Agência Nacional de Saúde Suplementar, no Atlas Online de Mortalidade e no IBGE.
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Um dos autores, o médico mastologista Ruffo Freitas-Junior destaca que, no período avaliado pela pesquisa, houve uma diminuição na cobertura estimada de rastreamento de câncer de mama para mulheres com 70 anos ou mais.
“A queda foi de 13,3% para 10,8%. Com menor rastreamento, constatamos que os casos de câncer de mama nos estágios III e IV, os mais graves da doença, aumentaram 44% no grupo com 70 anos ou mais em relação às mulheres entre 50 e 69 anos (40,8%)”, pontua o mastologista.
Dr. Ruffo complementa, ainda, que se essas pacientes fossem rastreadas anteriormente, ou seja, fizessem mais mamografias de rotina, elas poderiam ser diagnosticadas num estágio inicial e, assim, muito provavelmente não precisariam retirar a mama ou até mesmo passar por radioterapia, o que geraria menos custo ao sistema e menos sofrimento à paciente.
As diretrizes do Ministério da Saúde para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil desencorajam a mamografia de rotina para mulheres com 70 anos ou mais.
“Por outro lado, a SBM, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia recomendam a mamografia anual para mulheres de 40 a 74 anos”, ressalta o dr. Ruffo.
O rastreamento, completa o especialista, também é indicado para pacientes com 75 anos ou mais com expectativa de vida de pelo menos sete anos restantes.
Para se ter uma ideia, desde 2003, em lugares como Estados Unidos e alguns países da Europa, o limite de idade não é suficiente para determinar se a mulher deve ou não fazer a mamografia, por conta do aumento da expectativa de vida, já que com o crescimento dessa faixa de população, é possível ter mulheres com mais de 70 anos saudáveis e ativas.
“Infelizmente, é um grupo que é esquecido pelas campanhas de prevenção, porque muitos gestores acreditam que não faz muito sentido investigar um câncer nessa altura da vida. Mas é importante dizer que a expectativa de vida dos brasileiros está aumentando e muitos chegam aos 70 anos cheios de vida, sem comorbidades, ativos. Portanto, todas as decisões devem levar em consideração fatores como a idade fisiológica, a expectativa de vida estimada, os riscos e benefícios e a tolerância ao tratamento. Não dá para generalizar”, pontua o médico.
Fonte: Portal Drauzio Varella