O BC precisa entrar urgente no mercado de câmbio, por Luís Nassif

Campos Neto terá um grande reforço em sua política de desestabilização da economia: os mercados globais entraram em uma fase de explosão.

Porque houve calmaria no mercado, no período de férias de Roberto Campos Neto? Porque o Banco Central pode atuar livremente no mercado de câmbio e de derivativos. Bastou voltar para que, já na véspera, o mercado voltasse a se agitar, com o cartel da Faria Lima se movimentando livremente.

Agora, Campos Neto terá um grande reforço em sua política de desestabilização da economia: os mercados globais entraram em uma fase de explosão.

Ontem, o índice de referência do Japão despencou 13%, o pior dia em 37 anos, após a “Segunda-feira negra” em outubro de 1987. E os mercados globais entraram em compasso de espera, com a perspectiva de uma recessão dos Estados Unidos.

A integração absurda dos mercados, com o livre fluxo de dólares e as regras de movimentação das taxas de juros, criaram um mundo ocidental estagnado e em permanente volatilidade. Se os dados econômicos são bons, o reflexo é aumento dos juros atraindo os dólares para os Estados Unidos e apreciando as moedas dos países na zona de influência do dólar. Ao contrário, se a economia americana se enfraquece, há a perspectiva de redução dos juros, afetando os mercados.

Agora, além da economia americana, há a expectativa de ampliação de conflitos a partir de Israel, após o atentado cometido no Irã.

Na Europa, o Stoxx Europa 600 caiu 3%. Os contratos da Nasdaq (a bolsa de tecnologia norte-americana) registraram queda de 5% e o S&P 500, queda prevista de 2,9% na abertura.

O que leva a esse terremoto é que o Federal Reserve seja obrigado a recuperar o atraso, na queda dos juros, com uma série de cortes rápidos. Esses cortes provocam uma alta nas cotações dos títulos norte-americanos.

Entenda o movimento:

  1. Os títulos são pré-fixados. Portanto, seu valor de resgate não muda.
  2. Mas são rolados no mercado, respondendo à taxa referencial de juros do FED.
  3. Quando as taxas caem, diminui a distância entre o preço pago pelo título e o valor de resgate. Ou seja, há um aumento no valor do título à vista.
  4. Os movimentos nos diversos mercados são ativos que saem aguardando a ação do FED, para poder morder na valorização dos títulos norte-americanos.
  5. À medida que os dólares saem de outras economias, provoca um aumento na taxa de câmbio desses países. Na segunda-feira, o ien subia 2,2% em relação ao dólar.

A busca de abrigo seguro levou a Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, a reduzir pela metade sua posição na Apple, ao mesmo tempo que aumentava sua posição de caixa para R$ 277 bilhões, para a compra de títulos do Tesouro.

Ouvido pelo Financial Times, Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management, foi taxativo: “Não espero uma recuperação tão cedo, porque agora temos essa tempestade perfeita de carry trade japonesa sendo desfeita, fraqueza nas Big Techs dos EUA e tensões no Oriente Médio”.

Segundo o jornal, os futuros do índice Vix de turbulência – o chamado “medidor do medo” de Wall Street – subiram acima de 409 pontos, o maior nível desde os estágios iniciais da pandemia da Covid-19.

Nesta segunda, houve a suspensão de negociações no Japão, na Coréia. À medida que as cotações despencam, há um efeito imediato sobre os fundos hedge, com os investidores fechando posição e alavancando mais as perdas do mercado.

O índice Kospi, da Coreia do Sul, fechou em queda de 9,1%, enquanto o S&P/ASX australiano caiu 3,7% e o Sensex, da Índia, perdeu 2,9%.

As quedas atingiram mercados especulativos, como o de criptomoedas, com o bitcoin caindo 17% e o ether outros 17%,

Esse furacão chegará agora pela manhã ao Brasil. Se a irresponsabilidade de Campos Neto não for contida, e o BC não atuar no mercado de câmbio, haverá turbulência de monta pela frente.

Fonte: Jornal GGN