Ex-presidente do PT critica o modo de governar com o Centrão e defende a criação de um projeto estratégico para o campo progressista
O ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoino, participou da live de apuração dos resultados do segundo turno realizada pela TVGGN e apontou os caminhos para que a esquerda possa ter melhores resultados nas próximas eleições.
Para Genoino, o desempenho do PT neste pleito não foi ruim. Ele defende a análise além dos números, porque além da vitória de Evandro Leitão em Fortaleza, os representantes do partido disputaram bem as prefeituras de Cuiabá, no Mato Grosso, e em Natal, no Rio Grande do Norte.
Em São Paulo, porém, Guilherme Boulos (PSOL) e sua vice, Marta Suplicy (PT), não conseguiram bater o favoritismo de Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“Acho que o Boulos ter passado para o segundo turno já foi uma vitória. Ele fez uma campanha politizada, enfrentou quatro monstros: a Faria Lima, a administração municipal e estadual, a mídia corporativa e a cultura com a isentona dessa cidade”, pontua o ex-presidente do PT.
Mas o psolista deve andar de cabeça erguida, na avaliação de Genoíno, tendo em vista que além da politização, o candidato do campo progressista teve de enfrentar diversas notícias falsas a respeito dele, a mais recente propagada por Tarcísio. Segundo o governador, a organização criminosa PCC teria ordenado que eleitores da periferia votassem em Boulos.
Centrão
Genoíno garante estar otimista, apesar de as eleições de 2024 serem uma derrota da esquerda para a direita institucional neoliberal, que também pode ser entendida como Centrão.
“O governo não pode fazer uma leitura em ir mais para a direita ainda, ficar nas mãos do rentismo, das privatizações, do ajuste fiscal e da desregulamentação. Vou defender que o PT demonstrou vitalidade nesta eleição, comparando com a anterior, que foi a terra arrasada”, observou o líder partidário.
Para ele, o PT tem de passar por uma grande reforma na linha política, em especial sobre os métodos de organização – debate que deveria ser realizado antes das próximas eleições para presidente estadual e nacional da sigla.
“[A eleição] não foi um desastre para a esquerda. A esquerda não está sitiada. A esquerda não morreu e ela tem força e potencialidade de indicações”, emenda o convidado.
Futuro
José Genoíno, no entanto, tem caminhos para indicar, a fim de garantir o futuro do partido. “Precisamos de um projeto estratégico que enfrente o grande dilema de hoje, que é a precarização da vida, a eliminação de direitos, que enfrente a negação da política, que enfrente o individualismo ‘salve-se quem puder’. Que possa, através de um discurso politizado, uma estratégia de futuro resgatar a ideia de que outro mundo é possível, de que outra sociedade é possível.”
O entrevistado, que é um dos fundadores do PT, acredita não ser possível aceitar o discurso contra a polarização e apaziguamento das pautas progressistas.
“Isso é a morte da esquerda. A esquerda tem de ousar, reciclar suas bandeiras, seu projeto, mudar seus métodos de atuação, saiu muito da institucionalidade e para a sociedade, se casar com essa efervescência social que apareceu na eleição e buscar, no meu modo de entender, um fortalecimento do meu modo de entender da relação com a sociedade civil organizada”, emenda.
Na avaliação do ex-presidente da sigla, os candidatos a vereador e algumas prefeituras que apostaram neste caminho se saíram bem. “Estamos em uma linha de resistência positivada e acho que esse é o caminho para fazer uma espécie de reforma.”
FONTE: JORNAL GGN