Caso INSS: Problemas foram denunciados durante gestão Bolsonaro, diz Tonia Galleti, do Sindnapi

Ao Fórum Onze e Meia, coordenadora jurídica do sindicato explica quando começou a cobrar investigações sobre descontos indevidos

Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (28) recebeu a coordenadora jurídica do Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), Tonia Galleti, para comentar as investigações acerca de descontos indevidos feitos por associações de aposentadoria. A advogada esclareceu os principais pontos do caso que envolve o a entidade. 

Galleti, que trabalha no Sindnapi há mais de 20 anos, fez questão de destacar a trajetória do sindicato para diferenciá-lo das outras 10 associações que foram apontadas como investigadas pela Polícia Federal (PF). A advogada também ressaltou que foi uma das primeiras a denunciar as possíveis fraudes, ainda durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Ela contou que, a partir de 2021, o Sindnapi e outras organizações ligadas ao sindicato começaram a perceber um crescimento de associações que não eram ligadas a nenhuma central sindical e que estavam conseguindo um número acelerado de sócios em pouco tempo.

“Preencheu os requisitos, foi lá e fez o ACT (Acordo Coletivo de Trabalho). Zero sócios. Em um mês, 180 mil sócios na base sendo descontados. Quando a gente viu isso – a gente que eu digo, o Sindnapi, os outros sindicatos de aposentados, a Cobap, a Contag, enfim – arregalou os olhos”, relatou. A advogada destacou que o trabalho de conseguir sócios para o sindicato é “difícil” e que o próprio Sindnapi, com mais de 22 anos de atuação, nunca tinha conseguido um número tão alto em tão pouco tempo. 

“É difícil à beça fazer sócio. Não é uma tarefa fácil. O sindicato tem sede em todo o país. O sindicato tem mais de 25 sedes próprias. Tem hotel para sócio, colônia de férias para sócio, departamento jurídico, tudo isso, e não é fácil”, disse. Enquanto isso, as novas associações continuavam a crescer com números exorbitantes de sócios. 

“Agora, uma associação com escritório no Itaim Bibi – eu estou pegando um exemplo só dentre muitos – tem sócio no Acre, sócio no Rio Grande do Sul e, de repente, de um mês para o outro, pula de zero para uma infinidade de sócios”, destacou Tonia. 

Diante disso, a coordenadora afirmou que, entre 2021 e 2022, começou a buscar oportunidades para denunciar e cobrar investigações sobre esses casos. No entanto, ela contou que, durante o governo Bolsonaro, não havia “liberdade” para realizar esses processos. 

“Claro que nós não tínhamos tanta liberdade, vamos combinar que era meio difícil, porque era governo Bolsonaro. A gente tinha muita dificuldade naquele segundo biênio. No primeiro biênio do mandato Bolsonaro, estava bem tranquilo, porque eram técnicos que cuidavam do INSS. No segundo mandato, a coisa mudou um pouco, e a gente tinha mais dificuldades”, afirmou. “A gente não viu prosperar absolutamente nada em relação a esse problema”, acrescentou. 

Mesmo com as dificuldades, a advogada continuou tentando denunciar através de contatos com pessoas que trabalhavam no Ministério Público e outros órgãos de fiscalização. “Então, como eu tenho certeza absoluta da minha honestidade, da honestidade do meu pai, da diretoria que ele formou e do trabalho do sindicato, eu sempre falei com muita tranquilidade sobre esse problema e sobre a necessidade de se apurá-lo”, declarou. 

Apesar da insistência, Tonia contou que não teve nenhum “respaldo” e os casos não receberam “nenhum olhar” da gestão Bolsonaro nos seus últimos dois anos. Somente após o começo do governo do presidente Lula (PT), em 2023, que ela voltou a denunciar a situação. 

“Quando que eu fiz isso de novo? Quando o Lula ganha, assume um novo ministério, um novo ministro, enfim. Nós estivemos lá para falar do problema”, disse. Ela afirmou que compreendia que a nova gestão havia acabado de chegar e precisava entender o “tamanho do buraco”. “Porque estava tudo completamente destruído. É uma palavra muito forte, mas estava tudo bem difícil, uma fila enorme, enfim, todos os problemas que nós sabemos que a Previdência estava enfrentando, uma reforma recém-passada, uma série de problemas”, contou. 

Ela considerou, porém, que as medidas tomadas pelo Ministério da Previdência Social foram “insuficientes”. No entanto, a advogada ressaltou que acredita que o ministro Carlos Lupi “não tenha nada a ver com a corrupção” do INSS. “Claro que está todo mundo sendo investigado, a verdade vai aparecer, mas eu, pessoalmente, não acredito que o Lupi esteja envolvido”, afirmou. 

Por fim, a coordenadora voltou a pontuar que o Sindnapi estava preocupado com a situação dos descontos e possíveis fraudes desde o início. Só que todo mundo é colocado no mesmo balaio, todo mundo é colocado no mesmo cesto, e aí parece que todo mundo é bandido, que todo mundo é ladrão, que todo mundo roubou. E isso é muito injusto, não é? É um trabalho de uma vida que você vê, de repente, indo pelo ralo, porque não está vindo a verdade à tona como deveria”, lamentou Tonia Galleti. 

“Está tudo nebuloso”

A advogada também destacou que o Sindnapi ainda não teve nem a oportunidade de entender como o sindicato está envolvido nas investigações. Na lista da PF, ele aparece entre as 11 associações investigadas, mas tanto Tonia  como o presidente Milton Cavalo, que concedeu entrevista à Fórum na última semana, afirmaram que o sindicato não chegou a ser alvo de nenhuma operação. 

“Está tudo muito nebuloso. Infelizmente, isso me lembra muito o PowerPoint do [Deltan] Dallagnol, porque é ‘festa estranha com gente esquisita’. Então, assim, aparece lá que o sindicato está entre os 11 investigados, conseguiram que o juiz suspendesse o ACT do sindicato, só que eu queria realmente saber em que monte o sindicato está envolvido nisso, porque eu não consigo entender”, disse. 

“Como é que a gente está junto com tantos outros que são entidades que ninguém conhece, que surgiram do nada, que não têm sede, não têm subsede, e que ninguém vem aqui dar a cara tapa para dizer do trabalho que faz?”, questionou a advogada. 

“Pode ter erros? Pode. Agora, daí a falar que nós praticamente somos os líderes da quadrilha, vai uma distância gigantesca, né?”, analisou ela, que contou que o sindicato já pediu habilitação no processo criminal para ter acesso a mais informações. “Estamos pedindo audiência para falar com o ministro do CGU, com o ministro [Ricardo] Lewandowski, com juiz”, disse.  

“A gente fala com qualquer pessoa porque nós não temos nada a esconder. Somos uma entidade idônea, temos trabalho para mostrar. Então, não precisa ficar acreditando no que a Tonia está falando. É só olhar para trás e vai enxergar 25 anos de trabalho, de muito trabalho em prol dessa categoria”, afirmou.

A advogada ressaltou, ainda, que ter colocado o Sindnapi “no mesmo balaio” de outras associações ainda dificulta o trabalho do sindicato que presta uma série de serviços aos aposentados através das mensalidades pagas. “O sindicato tem prestação de contas anuais, tudo feito e protocolado no cartório, o sindicato tem as sedes próprias, ninguém vai sair correndo. Aliás, eu acho que de todas as entidades que têm ACT, eu não sei se o sindicato é o único que tem sede própria, registrada, no cartório, com matrícula”, disse.

Diante disso, ela afirmou que é uma situação “muito difícil” e “bastante injusta”. “É injusto o que a gente está vivendo, sendo colocado dessa maneira, não é? E aí ficam usando isso politicamente”, disse ela, se referindo ao fato de alguns veículos de mídia estarem relatando o ocorrido com foco no fato do irmão do presidente Lula, Frei Chico, ser vice-presidente do Sindnapi. 

O Frei Chico está aqui desde 2008 como diretor, não foi ontem que ele entrou ali. Tanto não tem nenhum favorecimento que nós estamos nessa ‘porcaria’ toda, mesmo tendo aqui o irmão do Lula. Então, a gente nunca usou isso de alguma forma para se beneficiar. São notícias mentirosas, são coisas que distorcem a realidade, e, infelizmente, a gente está vivendo isso. É muito triste”,analisou.

Defesa do sindicato

Tonia Galleti comentou que, em relação à defesa do sindicato, há uma série de processos de sócios contra o Sindnapi a partir de 2021 e 2022 – e que estão sendo destacados agora – devido aos casos de descontos indevidos, mas que o sindicato ganha 90% dos processos. 

“Por que ganha? Porque é idôneo. O sindicato fez uma auditoria que conflagrou 100% de pertinência documental, ou seja, tem todos os documentos do sócio, a gente não frauda”, afirmou. 

A advogada disse que problemas podem acontecer, como casos em que filhos não deixam os pais se associarem a sindicato e os aposentados precisam afirmar que foram forçados a se sindicalizar. “Tem uma série de situações que acontecem. A gente não está dizendo assim que nós somos os santos da paróquia. Pode ter tido algum problema? Pode, mas daí a falar que é fraudador, que é golpista, que roubou dinheiro do aposentado,aí é preciso essa gente ter prova mesmo, porque a gente vai, com certeza, dar pano para manga aí, porque a gente tem mais do que defesa, a gente tem trabalho de 25 anos para ser demonstrado“, declarou Tonia.

A advogada ainda acrescentou que o próprio diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou em entrevista ao portal ICL Notícias que o Sindnapi não é alvo de investigação. No entanto, ela cobrou que é preciso um esclarecimento público para negar o envolvimento do sindicato. “Por que a gente está lá com a ACT suspensa por medida judicial? Por que toda hora ficam divulgando que a gente está no rol de investigados? Então, precisa vir a público oficialmente, não só em um canal de comunicação, para esclarecer essa situação”, desabafou.

FONTE: REVISTA FÓRUM