Covid no Brasil: média de mortes cai, número de casos cresce e Fiocruz mantém alerta

País registra 2.311 mortos por causa do coronavírus em 24h. Total é de 425.540 vítimas fatais desde o início da pandemia

O Brasil registrou nesta terça-feira (11) 2.311 mortos por covid-19 em um período de 24 horas. Com o acréscimo, o país soma 425.540 mil vítimas do novo coronavírus desde o início da pandemia, em março de 2020. Apenas os Estados Unidos superam o Brasil em número de mortes. Os dados são do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

A curva epidemiológica de mortes diárias encontra-se em um movimento de recuo desde o pico, registrado no dia 12 de abril. A média móvel de mortes, calculada em sete dias, na ocasião chegou a 3.124; número mais alto de todo o histórico da pandemia no país. Hoje, este valor está em 1.993. É a primeira vez desde o dia 17 de março que a média é inferior a 2.000 mortos por dia pela covid no Brasil.

Esses resultados, entretanto, escondem outro movimento preocupante para os especialistas da área. Os dados que apontam para a redução das mortes são reflexo de medidas de isolamento adotadas pelos estados e municípios, especialmente em março. Contudo, tais medidas foram suspensas de forma antecipada e com pouco planejamento, de acordo com cientistas. Isso já tem reflexos na tendência de elevação nos casos, já clara.

Elevação

A covid-19 se comporta em um padrão relativamente constante. Altas ou baixas nos números de casos novos diários estão relacionados com altas ou baixas de mortes em uma questão de cerca de 15 dias. E as novas infecções diárias estão em alta. Após um período de um mês de recuo, as últimas duas semanas apresentaram elevação dos casos.

Os números desta terça confirmam esta tendência. Foram 72.715 infecções registradas nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia, são 15.282.705, sem contar ampla subnotificação, já que o Brasil não possui diretrizes nacionais para controle da pandemia. O balanço desta terça é superior à média móvel, que está em 60.831. Desde o dia 26 de abril, este indicador está em elevação.

Alguns estados, como Rio de Janeiro, Amazonas e Paraná, já mostram tendência acentuada de crescimento de casos. Em cidades paranaenses, já existem, novamente, registro de filas de pacientes em busca de UTIs. Ou seja, o estado retornou a uma situação de iminente colapso hospitalar. “Fila de UTI voltando a subir no Paraná não é bom sinal. Manaus com casos crescendo de novo não é bom sinal. Rio de Janeiro com alta de casos não é bom sinal”, lamenta o biólogo e divulgador científico, Atila Iamarino.

“Nos últimos três dias, a fila de espera por um leito de UTI para covid-19 no Paraná cresceu 57% – passou de 158 para 248 pessoas. O número de pacientes graves aguardando vaga de internação é o maior em mais de 30 dias, desde 8 de abril”, informa o jornalista paranaense Fernando Oliveira.

Cloroquina e esterco

O atual epicentro da covid-19 no mundo, lugar que foi ocupado pelo Brasil nos três primeiros meses do ano, é a Índia. O país asiático, que também tem ampla subnotificação, registrou média de novos casos acima de 300 mil a cada um dos últimos sete dias. As mortes superam 3 mil ao dia. Com mais de 23 milhões de casos, as mortes estão próximas a 245 mil. O desespero, a falta de hospitais e o abandono da população levou pessoas a apelar para crendices. Uma delas consiste em passar esterco de vaca, um animal sagrado na religião hindu, no corpo.

“Pode parecer absurdo alguém se esfregar com esterco de vaca para prevenir covid-19 (e é). Mas do ponto de vista de eficácia, fazer isso e tomar cloroquina ou ivermectina tem o mesmo efeito. Nenhum”, Atila Iamarino 

Por mais que pareça absurdo, Atila lembra que o Brasil vive uma situação similar com medicamentos ineficazes, indicados pelo presidente Jair Bolsonaro. “Pode parecer absurdo alguém se esfregar com esterco de vaca para prevenir covid-19 (e é). Mas do ponto de vista de eficácia, fazer isso e tomar cloroquina ou ivermectina tem o mesmo efeito. Nenhum. O esterco pelo menos promove distanciamento social”, disse. “Isso não é sinal de ignorância, é sinal de desespero, em que as pessoas têm pouco ou nenhum controle da situação em um país que não levou a covid à sério. A comparação com nosso kit covid é justamente pra apontar que passamos pelo mesmo aqui”, completou.

Fonte: Brasil de Fato
Foto: Michael DANTAS / AFP