Na última semana, Bolsonaro disse, em agenda pública e acompanhado pelo presidente do banco, Pedro Guimarães, que “a Caixa, com o ladrão de nove dedos, dava prejuízo. Agora, em nosso governo, traz mais do que lucros, traz benefícios ao povo brasileiro”.
A pedido de bancários da Caixa, Dieese faz levantamento e mostra que banco teve lucro nos últimos 18 anos
Estudo detalha resultados da estatal ao longo de quase duas décadas. Lucro contabilizado em 2019 e 2020 inclui valores decorrentes de venda de ativos do banco público por atual governo. “Não mostra que a empresa está se expandindo e gerando empregos; mas, sim, que está se desfazendo de ativos fundamentais”, ressalta Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)
Brasília — O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) concluiu um levantamento que mostra que a Caixa Econômica Federal vem registrando lucro em todos os anos, desde 2003. O estudo, produzido a pedido da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), detalha os resultados do banco público ao longo de quase duas décadas. Em valores atualizados, a empresa contabilizou um lucro líquido acumulado de R$ 39,7 bilhões durante o governo Lula (2003 a 2010), de R$ 51 bilhões no governo Dilma (2011 a 2016) e de R$ 25,4 bilhões no governo Temer (2017 e 2018).
Em 2019 e 2020, o lucro acumulado foi de R$ 35,1 bilhões. Este montante, contudo, inclui valores decorrentes da venda de ativos da estatal. “O resultado de 2019, por exemplo, foi fortemente influenciado pela venda de Notas do Tesouro Nacional (NTN-B) e de ações da Petrobras”, explica Sergio Lisboa, economista do Dieese. “Do lucro de R$ 22 bilhões (em 2019), aproximadamente R$ 15 bi são referentes à venda de ativos que a Caixa tinha, a exemplo de ações da Petrobras, do IRB [Instituto de Resseguros do Brasil] e do Banco Pan, entre outras”, acrescenta.
De acordo com o economista, dos R$ 13,1 bilhões de lucro líquido registrados pelo banco ano passado, R$ 5,9 bilhões foram resultado de recursos oriundos da Caixa Seguridade. “Em razão de acordos operacionais que ocasionaram a renovação e formalização de novos contratos”, detalha Lisboa.
O diretor de Formação da Fenae, Jair Ferreira, emenda: “Não foi a atividade bancária que gerou os resultados em 2019 e 2020”. Na última semana, Bolsonaro disse, em agenda pública e acompanhado pelo presidente do banco, Pedro Guimarães, que “a Caixa, com o ladrão de nove dedos, dava prejuízo. Agora, em nosso governo, traz mais do que lucros, traz benefícios ao povo brasileiro”.
Conforme observa Jair Ferreira, o lucro contabilizado pela estatal nos dois primeiros anos do atual governo é resultado não só da venda de ativos como também da redução do papel social da Caixa. “Não mostra que a empresa está se expandindo e gerando empregos; mas, sim, que está se desfazendo de ativos fundamentais”, ressalta.
Ferreira pontua que, a exemplo do que ocorreu com o BB Seguridade [braço de seguros do Banco do Brasil], em um primeiro momento o lucro é inflado pela venda dos ativos. “Mas, nos anos seguintes, o resultado cai substancialmente por conta da ausência dos resultados produzidos por tais ativos”, explica.
O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, destaca que a Caixa vem sendo claramente enfraquecida na gestão Bolsonaro. Além da venda de ações da Caixa Seguridade no final do último mês de abril, o governo prevê a privatização de outros braços estratégicas e rentáveis da estatal. Além da Seguridade e do futuro Banco Digital, a direção da Caixa Econômica atua para a venda de outros segmentos estratégicos e rentáveis do banco, como as áreas de Cartões, Gestão de Recursos e até as Loterias Federais.
“Estão entregando para o mercado um patrimônio que deveria ser mantido nas mãos do país, dos brasileiros, em benefício principalmente à população mais carente, que sempre teve a Caixa como o banco da habitação, da infraestrutura, da saúde, do crédito popular e do financiamento estudantil”, acrescenta Takemoto.
A tabela abaixo mostra o lucro líquido da Caixa Econômica Federal ano a ano (Deflator: IPCA-IBGE/Dez/2020):
Fonte: Jornal GGN
Foto: Divulgação GGN