Epidemiologista Pedro Hallal (UFPel) estimou também que o atraso nas vacinas causou 95,5 mil mortes
O epidemiologista e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal afirmou à CPI da Covid, nesta quinta-feira (24), que 95,5 mil mortes poderiam ter sido evitadas no Brasil se o governo federal não tivesse atrasado a compra das vacinas CoronaCac e da Pfizer. Sua estimativa considerou 4,5 milhões de doses do imunizante da farmacêutica norte-americana que poderiam ter sido entregues até março, se o contrato tivesse sido fechado no ano passado. Outras 49 milhões de doses da vacina produzida pela China em parceria com o Instituto Butantan, poderiam ter sido entregues até maio.
“São 95,5 mil mortes especificamente relacionadas à demora na assinatura da Pfizer e da Coronavac”, declarou Hallal, questionado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI. Para esse levantamento, ele se baseou nos depoimentos do ex-presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, e do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, prestados à própria Comissão no mês passado.
Ele citou, ainda, outro estudo realizado por pesquisadores da USP que estimou em 145 mil as mortes evitáveis, caso houvesse um cronograma de vacinação mais avançado. Essa estimativa considerou não apenas a demora na aquisição das vacinas citadas anteriormente mas também a disponibilidade total de imunizantes, caso o Brasil tivesse optado pelo percentual de 50% – em vez de apenas 10% – no consórcio Covax Facility. Assim como a compra antecipada de outros imunizantes.
Hallal calculou ainda que pelo menos 400 mil dos 507 mil óbitos poderiam não ter acontecido se o Brasil estivesse na média mundial de mortos pela covid-19. No entanto, com apenas 2,7% da população mundial, o país responde por 13% do total de mortos. Apenas nesta quarta-feira (13), o Brasil respondeu por um terço das mortes mundiais pela pandemia, quando foram registrados 2.392 novas vítimas nas últimas 24 horas.
Na sua apresentação inicial, ele listou os “sete pecados capitais” cometidos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia. Os erros cometidos vão desde o atraso na vacinação e o desestímulo ao uso de máscaras até a falta de uma campanha de comunicação unificada, sob comando do Ministério da Saúde, para orientar a população durante a emergência sanitária. Além da falta de uma política de testagem em massa, capaz de rastrear e isolar os infectados.
Já a médica Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil e coordenadora do Movimento Alerta, 120 mil mortes de brasileiros poderiam ter sido evitadas no primeiro ano da pandemia. Isso sem considerar as vacinas, que ainda não estavam disponíveis no momento. Além das medidas não farmacológicas, que não foram adotadas na intensidade devida, também faltou preparação adequada nos sistemas de saúde.
Ela destacou que “desigualdades estruturais” tiveram influência sobre as altas taxas de mortalidade. “A maioria das pessoas que morreram eram negras, indígenas, de baixa renda e baixa escolaridade”, afirmou a especialista. Das 305 mil “mortes em excesso” causadas pela pandemia nas primeiras 54 semanas (um ano), 66% delas ocorreram no sistema público. Destes, a maioria era de populações “não brancas”. Além disso, ao menos 20 mil mortes foram registradas em unidades de pronto atendimento, o que indica a falta de leitos para atendimento especializado.
“Há vidas que ainda podem ser salvas”, instou Jurema. Nesse sentido, entre outras medidas, ela defendeu a criação de uma “frente nacional” de enfrentamento à pandemia. Esse esforço deveria ser liderado pela própria Comissão e pelo Congresso Nacional, diante da negligência do Poder Executivo. ” “Precisamos de alguém que lidere as ações”, clamou.
Fonte: CUT