Para o presidente de CUT, esse número absurdo é resultado da política econômica do governo, da falta de investimentos e precarização dos empregos
Em um ano, 377 trabalhadores e trabalhadoras perderam seus empregos por hora no Brasil governado por Bolsonaro. O auge foi em agosto de 2020, período mais crítico da pandemia, com a perda de 1.366 empregos por hora. Esse número foi levantado pela consultoria IDados, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, do mês de abril deste ano.
Para o presidente da CUT, Sérgio Nobre, essa tragédia é resultado da política econômica do governo federal, da falta de investimentos públicos e da precarização dos empregos.
“O governo desmontou instrumentos de desenvolvimento do país e a iniciativa privada não tem, historicamente, condições de exercer o papel de indutor da economia, como quer Guedes e Bolsonaro”, diz Sérgio Nobre, se referindo ao ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes e ao presidente da República.
Na avaliação do presidente da CUT, uma série de escolhas erradas na política econômica do governo Bolsonaro, que em dois anos e meio de gestão ainda não apresentou uma única proposta efetiva para geração de emprego e renda, resultou em desemprego recorde e aumento da fome. Essa crise profunda, acrescenta, fez o Brasil cair de sexta economia do mundo, durante os governos de Lula e Dilma Rousseff , para a 12ª posição atualmente.
A taxa de desemprego é de 14,7%, o dobro da taxa verificada em 2013 (governo Dilma) que estava em torno 7%. Portanto, há hoje cerca de 15 milhões de pessoas que ativamente procuram por emprego, quase 8 milhões a mais do que havia em 2013, de acordo com um levantamento do ex-diretor técnico do Dieese e atual assessor do Fórum das Centrais Sindicais, de que a CUT faz parte, Clemente Ganz Lúcio.
Para Sérgio Nobre, os números seriam outros se o governo não tivesse fragilizado as estatais. De acordo com ele, entre os motivos da crise estão o desmonte promovido pelo governo, com redução de investimentos e quadro de pessoal para privatizar tudo que conseguir aprovar no Congresso Nacional. Por exemplo, como aconteceu com a Eletrobras, apesar dos riscos de ocorrem novos apagões como o do Amapá, no ano passado. Também a intenção de privatização dos Correios e da Petrobras, além do desmonte do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), que abandonou o financiamento industrial.
“Sem as estatais, o BNDES e os bancos públicos fazendo investimentos não tem Ministério do Trabalho que consiga promover mais empregos”, afirma Nobre, referindo-se à recriação daquela pasta com o objetivo de acomodar aliados políticos do governo – o ministério será comando por Onyx Lorenzoni, do Centrão, que terá 200 cargos para indicação política em todo o país na véspera do ano eleitoral.
Bolsonaro está emparedado pela possibilidade do impeachment. Por isso, distribui cargos ao Centrão, recriando o Ministério do Trabalho. Se não há diálogo, nem revisão desta política econômica não tem como o país crescer – Sérgio Nobre
O presidente da CUT tem razão em se preocupar. Além dos 14,7 milhões de desempregados, há no Brasil 177 milhões de pessoas em idade de trabalhar (14 anos ou mais), dos quais 86 milhões estavam ocupadas, totalizando 100,7 milhões ativos como empregados ou desocupados e 76,4 milhões estavam fora da força de trabalho.
A falta de investimentos públicos, como fizeram os governos Lula e Dilma; o fim da obrigatoriedade de agregar conteúdo nacional para empresas estrangeiras, fazendo com que entrem aqui produtos acabados, também são, segundo o presidente da CUT, fatores que impedem o crescimento do país e a volta dos empregos. “O fim da exigência de conteúdo nacional fez a Ford deixar o Brasil. Outras milhares de empresas fecharam, e vão continuar fechando, na indústria, no comércio e nos serviços porque não existe política para o desenvolvimento do país. Enquanto o governo acha que o mercado resolve tudo, vamos conviver com o desemprego”, diz Sérgio Nobre.
O ex-presidente Lula também se manifestou sobre os índices de desemprego. Em suas redes sociais, Lula reafirmou que o atual presidente não está preocupado com o sofrimento do povo brasileiro.
A desigualdade e a precarização se apresentam com 10 milhões de assalariados sem carteira de trabalho assinada, e que estão na ilegalidade. Dos cerca de 24 milhões de trabalhadores por conta própria, a grande maioria não tem proteção laboral e previdenciária. Dos outros 5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras domésticas, a maioria está na informalidade.
Cerca de 40% de 86 milhões de ocupados estão na informalidade. Entre os empregados, o IBGE estima que mais de 7 milhões estão subocupados porque têm jornada de trabalho parcial, portanto inferior àquela que gostaria de trabalhar e para a qual estão disponíveis, traz ainda o levantamento do ex-diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio.
O quadro abaixo, a partir do levantamento do ex-diretor-técnico do Dieese, apresenta o resumo desse contexto.
Nem mesmo esta tragédia social sensibiliza o atual governo, que só privilegia o capital financeiro, com desonerações que saem caro ao trabalhador. Ao contrário, o ministro da Economia estimula a recriação da Carteira Verde e Amarela, que retira direitos trabalhistas e paga salários menores.
“A CUT está denunciando que este mecanismo não gera emprego qualificado. Vai haver substituição de emprego formal por precário, o que gera menos arrecadação ao caixa da Previdência e retira recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que financiam saneamento e habitação. A Carteira Verde e Amarela só aprofundará a crise do desemprego”, alerta o presidente da CUT.
Um emprego é bem-vindo, mas tem de ser um que permita criar os filhos, dar segurança e sustento à família. Para isso é preciso gerar emprego de qualidade. A sociedade precisa entender que sem empregos com carteira assinada, o Brasil não será a Nação que queremos – Sérgio Nobre
Fonte: RBA