Petrobras embolsa 33 % por cada litro de gasolina vendido

Presidente da Petrobras diz que estatal fica com apenas com R$ 2 por cada litro da gasolina vendido. O que ele não diz: esse valor é maior do que recebem outros agentes na composição de preços do combustível

Na disputa de quem tem a culpa pelo alto preço da gasolina que em média está custando R$ 6,09 o litro – em algumas cidades ultrapassa os R$ 7 – autoridades mentem ou distorcem informações. Ninguém assume que a disparada dos preços é resultado da política da Petrobras que adotou a política de preços com paridade com o dólar e o preço internacional do barril de petróleo desde o governo do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP). 

O presidente da República Jair Bolsonaro (ex-PSL), que manteve a política de preços, tenta tirar o corpo fora como se não tivesse nada a ver com isso e culpa os estados pelo valor do Imposto de Circulação sobre Mercadorias (ICMS). Imposto que está congelado há anos na maioria dos estados. Ele distorce os fatos.

Nesta terça-feira (28), em um ato com Bolsonaro em Alagoas, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), adotou a tese do presidente e defendeu mudanças na legislação tributária para adotar um ICMS  fixo para os combustíveis.

O presidente da Petrobras, o general do Exército, Joaquim Silva e Luna, que ganha mais de R$ 200 mil para exercer o cargo, tenta convencer a população de que não tem nada a ver com os preços altos e mais, que a petroleira ganha pouco. “Tudo o que excede R$ 2 não é nossa responsabilidade”, diz se referindo a quanto fica com a estatal por cada litro vendido nos postos de combustíveis.

O que Silva e Luna não diz é que esses R$ 2 representam a maior parte na composição de preços: 33% do valor do litro é embolsado pela Petrobras. 

A pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep),Carla Ferreira, explica a divisão de índices no valor final na bomba do posto de gasolina. Confira:

– a Petrobras fica com 33%;

– o percentual de ICMS, cobrado pelos estados, é de 28%;

– outros 17% vão para os produtores de etanol, adicionado à gasolina;

–  11,4% referem-se a impostos federais; e,

– 10,6% ficam com os distribuidores e a revenda.  

O próprio presidente da Petrobras admitiu que na composição de preços para a gasolina a R$ 6,10 por litro: R$ 2 por litro vão para a Petrobras, R$ 1,03 por litro vão para custo da mistura do etanol anidro, R$ 0,66 por litro à distribuição e revenda, R$ 0,69 por litro para tributos federais e R$ 1,67 para impostos estaduais.

“São seis elementos que participam do preço do litro da gasolina, mas preço de produção definido pela Petrobras é que tem maior influência no preço final“, diz Carla Ferreira.   

A pesquisadora do Ineep, alerta ainda que, embora recebam a segunda maior fatia via o ICMS, a alíquota média dos governos estaduais não se alterou.

“O ICMS é um percentual que incide sobre o preço final. Não é o ICMS que tem explicado o atual aumento dos preços. Dos outros elementos, o que variou um pouco mais, no último período, foi o preço do etanol”

A pesquisadora explica ainda que há um “efeito carona” das distribuidoras e revendedoras que tendem a aumentar suas margens de lucro , mas não parece que elas sejam as vilãs do aumento neste momento”.

O preço final é composto de vários elementos, mas, atualmente, o maior impacto nos aumentos é da realização da Petrobras. O preço de paridade de importação tem feito com que a empresa tenha maiores lucros, em parte às custas do consumidor interno- Carla Ferreira

Vem aí mais aumento no preço do diesel

A Petrobras anunciou nesta terça-feira (28), um reajuste de 8,9% nos preços das refinarias para o diesel. Só neste ano, o diesel acumula alta de 51,49%. Com o novo aumento de R$ 0,25, o litro do diesel passará de R$ 2,81 para R$ 3,06.

O anúncio do reajuste veio menos de 24 horas depois do presidente da República tentar enganar a população de que ele nada tem a ver com a alta dos preços. O presidente disse que conversou com o Ministro das Minas e Energia , Bento Albuquerque , para discutir formas de diminuir o preço dos combustíveis “na ponta da linha”. Pelo jeito a autoridade presidencial não prevaleceu sobre os interesses econômicos do mercado.

 *Edição: Marize Muniz

Fonte: CUT