Lei dos Genéricos provocou evasão de multinacionais e empresas brasileiras puderam se consolidar no mercado, que hoje aposta em biotecnologia
Entre as 20 maiores empresas farmacêuticas que atuam no Brasil, 10 são nacionais e estão as principais financiadoras de pesquisas para o desenvolvimento de novos medicamentos no país, especialmente os biotecnológicos.
Segundo o presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil, que reúne cinco das maiores empresas farmacêuticas de controle nacional, Reginaldo Arcuri, o volume de aportes da indústria brasileira em inovação e pesquisa supera em até três vezes o montante investido por multinacionais.
Convidado do programa Nova Economia da última quinta-feira (4), Arcuri relatou que a indústria farmacêutica é uma exceção no processo de desindustrialização do país, como consequência da implantação da Lei dos Genéricos, em 1999.
“Na medida em que o Brasil teve a Lei do Genérico, teve início um deslocamento de fábricas. Muitas empresas que tinham fábricas no Brasil encerraram suas atividades fabris e passaram a importar medicamentos, porque produzir no Brasil é caro e complicado”, observa o presidente do Grupo FarmaBrasil.
O entrevistado explicou que o processo de produção de medicamentos bioequivalentes, como podem ser chamados os genéricos, envolve diversas regulações sanitárias a serem cumpridas. Os dossiês para a aprovação de medicamentos costumam ter até 15 mil páginas, a fim de demonstrar a segurança, eficácia e qualidade do novo medicamento.
O desenvolvimento de um genérico exige ainda uma fase de testes com pacientes, tornando o processo ainda mais caro.
Esta complexidade afastou as multinacionais. “As empresas nacionais foram ocupando esse espaço e ganhando espaço, musculatura, construíram um parque fabril de primeira qualidade e estão investindo bilhões em novas fábricas”, continua Arcuri.
A principal aposta da indústria farmacêutica hoje é a rota biotecnológica. Até hoje, os remédios atuam a partir da indução de processos biológicos a partir da fermentação. As reações não mais controláveis externamente.
“A rota biotecnológica é uma revolução. Você parte de uma pré-definição do que você quer. Você basicamente partiu para desenhar proteínas que eram excretadas numa forma parecida com o que você quer em células vivas. E, com o poder manipular o DNA dessas células vivas, você pode ter uma proteína desenhada para agir no corpo humano com um objetivo específico”, explica o entrevistado.
Graças a esta nova linha de pesquisa, os remédios do futuro serão capazes de alterar o DNA das células do próprio paciente, que serão reintroduzidas para estimular o processo químico necessário para a eficácia do tratamento.
Arcuri observa que a biotecnologia abriu uma gama de novos tratamentos, a partir dos quais será possível curar doenças crônicas, como Aids e diversos tipos de câncer.
Fonte: Jornal GGN