Professor da PUC, o convidado do Nova Economia ressaltou que os grupos que se mantêm no poder seguem inalterados
O programa Nova Economia da última quinta-feira (16) contou com uma aula de economia contemporânea do professor titular de pós-graduação da PUC-SP e consultor de diversas agências da Organização das Nações Unidas (ONU), Ladislau Dowbor.
Entre as temáticas abordadas, Dowbor chamou atenção para o fato de que, no Brasil, independente do regime político, os grupos que se mantêm no poder seguem praticamente inalterados. “Depois da ditadura, temos democracia. Mas temos democracia, temos ditaduras, temos golpes, e é tudo a mesma classe dirigente, as mesmas elites.”
A única exceção, de acordo com o docente, foi a “golden decade” brasileira, entre 2003 e 2013. “Houve uma razoável redistribuição, investimentos públicos mais pesados, crescimento de 3,8%, dobrou a população universitária. Há momentos, surtos, em que se coloca mais dinheiro na base da sociedade e faz investimentos públicos necessários, o Brasil se solta [das elites], a coisa funciona. Mas voltam as elites com muita rapidez, retomam as rédeas. O golpe contra a Dilma [Rousseff, ex-presidente] é outro escândalo.”
Dowbor resgatou alguns indicadores para mostrar a gravidade da desigualdade brasileira. Atualmente, o país ainda soma 79% das famílias endividadas, o que representa 72 milhões de adultos inadimplentes. “Isso em um país em que, se você divide o PIB [Produto Interno Bruto] pela população, isso dá R$ 16 mil por mês de renda por família de quatro pessoas”, continua o professor.
Assim, se a desigualdade fosse reduzida, seria possível garantir que todos os brasileiros pudessem viver de maneira digna e confortável, além de gerar demandas na base da sociedade que fazem a economia funcionar, até porque o alto endividamento da população trava o consumo.
O professor cita ainda que apenas a produção de grãos da última safra resultou em quatro quilos por pessoa. Em geral, cada indivíduo consome 180 gramas de grãos por dia. “Mas temos 33 milhões de pessoas que passam fome e 125 milhões em situação de insegurança alimentar. O país não consegue alimentar as suas crianças e vem os Toffolis [em referência ao ministro do STF], os caras de jatinho. Isso aqui não é economia, é sem vergonhice.”
Diante deste cenário, Dowbor explica que a sociedade brasileira não tem força de mobilização e precisa encontrar bases políticas para questionar o sistema vigente, tendo em vista que, diferente das décadas de 198 e 1990, quando os movimentos sociais eram mais fortes e vivíamos a era do capitalismo industrial, atualmente enfrentamos a era do sistema essencialmente financeirizado.
“Você tinha uma época em que tinha os trabalhadores. Hoje está muito fragmentado, em grande parte é precariado, não é mais proletariado. Tinha uma compreensão do processo de exploração maior quando você está ́ em uma fábrica e os caras pagam um salário muito baixo ou não tem condições de trabalho. O pessoal está ali junto, se organiza. Agora quando a exploração é feita bastante menos por baixos salários e sim por sistema de exploração financeira diversificados e muito diversos… Citei os 72 milhões de adultos inadimplentes. Vão fazer o que? Se manifestar em frente da agência bancária? Depois, apresenta para ele o juros por mês. Ninguém sabe fazer o cálculo de juros compostos”, emendou.
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Fonte: Jornal GGN