A desmoralização do governo Jair Bolsonaro tem dois agentes especiais. Um, o ex-Ministro da Saúde, general Eduardo Pazzuello. Outro, o Ministro da Economia Paulo Guedes.
Nas mãos de um Ministro mais competente, a Economia poderia conferir a Bolsonaro o poder necessário para implementar definitivamente seu projeto autocrático. Foi assim na Alemanha de Hitler, com o Ministro Hjalmar Schacht ajudando na recuperação de uma economia destruída pelas multas de reparação da 1a Guerra.
Guedes é incapaz de pensar fora do livrinho. Aliás, é incapaz de pensar dentro do livrinho. Não foi capaz de organizar sequer a peça fundamental de qualquer Ministro da Economia, o orçamento. Permanentemente, sua única atividade consiste em acenar com reformas, sem ter conseguido até agora desenvolver um projeto minimamente factível de reforma.
Limita-se a leituras incorretas de estatísticas e em acenar, a qualquer respiro da economia, como uma recuperação em V, que acaba se frustrando.
Não consegue sequer montar estratégias em torno das políticas monetária – sob controle estrito do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto -, e cortes irracionais do orçamento, sem conhecimento mínimo sobre as consequências.
Se não domina sequer as ferramentas monetária e fiscal, nada se deve esperar de outras formas de intervenção na economia. Mesmo assim, foram colocados sob seu comando os antigos Ministérios do Planejamento e de Desenvolvimento.
Hoje em dia, a economia brasileira padece dos seguintes problemas:
1. Há problemas na cadeia de suprimentos, decorrente da crise das cadeias globais de produção e das dificuldades internas. O papel de qualquer Ministro da Economia seria reunir os diversos setores afetados, montar o diagnóstico e as ações para resolver o problema. Guedes sequer se dá conta desses problemas.
2. Há um problema de inflação de custos, decorrente exclusivamente da desvalorização cambial, do boom das commodities. A única arma utilizada é o aumento da Selic, com impactos sobre a relação dívida/PIB e sobre o nível de atividade.
3. A renda básica seria fundamental para injetar algum gás na economia e impedir o desespero das famílias de baixa renda, de se expor ao Covid para não morrer de fome. Guedes suspendeu por vários meses o pagamento e reduziu substancialmente seu valor.
4. Na questão orçamentária, Guedes deixou explodir a crise. Só se moveu quando constatou que parte dos recursos orçamentários serviram para incrementar seu adversário interno, de um Ministério considerado gastador.
Um cínico diria que foi barato o preço para desmoralizar os propósitos golpistas de Bolsonaro. Conferindo a quantidade de vítimas do Covid e da fome, percebe-se que foi um preço excessivamente elevado.
FONTE:GGN
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