Margarida Alves, líder sindical e camponesa, foi morta em 1983, mas segue como inspiração para a luta das mulheres
Há 91 anos, no dia 5 de agosto de 1933, nascia Margarida Maria Alves, em Alagoa Grande (PB). Trabalhadora rural, líder sindical e militante pelos direitos da mulheres e pela reforma agrária no Brasil, Margarida Alves foi uma das primeiras mulheres a presidir um sindicato no país, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de seu município. Durante sua gestão, moveu mais de 600 ações trabalhistas, e foi uma das vozes mais atuantes na denúncia ao desrespeito às leis trabalhistas e às condições precárias de trabalho nas usinas de cana-de-açúcar da região.
“Margarida era uma mulher forte, de fibra, muito corajosa e uma grande lutadora. Ela enfrentou uma luta ferrenha contra os latifundiários, os perseguidores dos trabalhadores, porque não era fácil naquela época”, declarou ao Brasil de Fato a amiga e companheira de luta de Margarida Alves, Maria da Soledade Leite.
Em plena ditadura militar, Margarida não se intimidou com as ameaças de latifundiários e governantes autoritários, e seguiu atuando contra a ausência total de direitos trabalhistas, as longas jornadas, as baixas remunerações e o trabalho infantil nos canaviais. Ela também foi uma das fundadoras do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, ao lado do educador e patrono da Educação brasileira, Paulo Freire.
“É melhor morrer na luta do que morrer de fome”, declarou Margarida Alves durante as comemorações do 1º de Maio de 1983, apenas três meses antes de ser assassinada a mando de latifundiários da região na porta de sua casa. Sua morte, em 12 de agosto do mesmo ano, repercutiu no movimento sindical e entre as organizações de mulheres da Paraíba, que passaram a exigir justiça, bem como a propagar suas ideias, que acabou se tornando uma referência para o sindicalismo e para o feminismo brasileiro. O crime segue impune.
“Depois da morte de Margarida para cá foi que as mulheres ‘criaram línguas’, aprendemos a falar e a nos respeitar enquanto mulher, como ser humano, e lutar por nossos direitos”, relatou Soledade.
Em 17 de agosto de 2023, seu nome foi inserido no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Abrigado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, o livro reúne o nome de pessoas que dedicaram suas vidas às lutas por um país melhor, como Zumbi dos Palmares, Chico Mendes, Nise Silveira, Zuzu Angel e Chico Xavier, entre outros.
Margaridas, no plural
Desde o ano 2000, a cada quatro anos, milhares delas se reúnem em Brasília, na marcha que leva o nome da sindicalista paraibana, a Marcha das Margaridas. Em 2023, a atividade, organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), reuniu mais de 100 mil trabalhadoras nas ruas da capital federal para cobrar o direito ao acesso à terra e mais políticas de combate à violência de gênero.
A organização da atividade a descreve como “ação ampla e estratégica das mulheres do campo e da floresta”, que articula e mobiliza as mulheres brasileiras em torno de diferentes pautas de interesse das trabalhadoras. A marcha tem o objetivo de fortalecer e ampliar a organização, elaborar propostas de políticas públicas sob a perspectiva feminista, denunciar as formas de violência, exploração e discriminação contra as mulheres, bem como reafirmar o protagonismo e dar visibilidade à contribuição econômica, política e social das mulheres do campo, da floresta e das águas.
Nos últimos anos, a Marcha das Margaridas esteve representada em importantes articulações com o poder público, como a realização da Campanha Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres do Campo e da Floresta, a criação do Fórum Nacional de Elaboração de Políticas para o Enfrentamento à Violência contra as Mulheres do Campo e da Floresta e a elaboração de diretrizes para a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as mulheres voltadas para o atendimento das mulheres rurais.
Edição: Thalita Pires
Fonte: Brasil de Fato