A maioria dos sem patrão, chamados empreendedores por governos e mídia tradicional, ganha R$ 1.000 por mês, segundo pesquisa do projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo
Quase metade dos trabalhadores e trabalhadoras conta própria, chamados de empreendedores pelo governo e por órgãos de mídia tradicional, tem renda inferior a um salário mínimo, hoje de R$ 1.100. A maioria (48%) consegue por mês R$ 1.000 por mês e apenas 7% têm renda superior a R$ 4.000. Nos estratos intermediários, 30% têm renda entre R$ 1.001 e R$ 2.000 e 15%, entre R$ 2.001 e R$ 4.000.
Os dados são de pesquisa realizada pelo projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, pela Universidade Federal de Santa Catarina e pela Reafro (Rede Brasil Afro Empreendedor), intitulada ‘Nas dobras da precariedade – Desigualdades regionais, de gênero, raça e classe no trabalho por conta própria no Brasil’.
A pesquisa derruba o mito de que o trabalho por conta própria representa liberdade para organizar o que fazer, sem patrão e sem cartão de ponto, reforçando o tal ‘espírito empreendedor’ dos brasileiros. Como a CUT sempre disse derruba a falácia de que com o empreendedorismo, também conhecido como bico ou trabalho por conta própria, os trabalhadores e as trabalhadoras conseguem rendimentos suficientes para sobreviver com dignidade.
Os dados da pesquisa, divulgada nesta quarta-feira (14), mostram ainda a discriminação racial e de gênero: mulheres e negras ganham menos do que as brancas e os homens.
Entre as mulheres cabeleireiras (negras e brancas) a renda está concentrada na primeira faixa (até R$ 1.000) mas é maior quanto mais branco for o grupo de trabalhadoras.
Já entre os caleleireiros, o salário é maior. Os homens concentram o segmento com renda maior que os R$ 4 mil recebidos pela categoria.
Em todas as atividades pesquisadas as mulheres negras ganham mmenos que os homens brancos.
– na faixa salarial entre R$ 2.001 e R$ 4.000, os homens brancos ocupam quase todas as posições
– na faixa salarial de até R$ 500, quase todas as ocupações são exercidas pela população negra. Essa predominância, em menor escala, repete-se nas faixas até R$ 2.000
– na faixa acima de R$ 4.000, o eixo racial separa as atividades por completo
– a mais masculina e branca das atividades por conta própria é na agricultura, enquanto as mulheres brancas que trabalham por conta própria são hegemônicas na área de psicologia
– os segmentos de atividade com predominância de mulheres negras são o de cuidados do corpo e de produção de roupas e alimentos
– homens negros predominam nos segmentos de construção civil, transporte (em geral como condutores) e manutenção automotiva.
Fonte: CUT